Dirigido por Antonio Carlos Fontoura, o filme escolhe focar-se em um período particular da vida do astro, sem aprofundar-se muito nem nos dramas, nem nas razões do personagem, concentrando-se mais nos anos de sua formação musical e destacando sua participação em todo o cenário punk e rock de Brasília mostrando quase que por tabela bandas como Aborto Elétrico, Plebe Rude, Capital Inicial e Paralamas do Sucesso.
Para funcionar, o Renato Russo de "Somos tão Jovens", um brilhante trabalho de ator de Thiago Mendonça (Os Dois Filhos de Francisco), precisa que o público dos cinemas o identifiquem, assim, tom de voz, gestual e até frases pinçadas das letras de músicas da Legião aparecem aqui e ali, chegando a provocar risos da plateia e tentando fazer passar uma teoria um pouco superficial e rasteira de predestinação.
O lado ruim é que para possibilitar essa identificação de alguns personagens que continuam por aí, no cenário musical brasileiro, confundiram interpretação com imitação de tom de voz e trejeitos e a passagem de alguns deles pela tela, chega a ser embaraçosa e involuntariamente cômica.
Quanto ao Renato Russo, sim, ele chegaria longe... em algum momento perdido, lá entre as décadas de 80 e 90, Renato Russo atingiu o status de lenda e transcendeu as barreiras sempre bem marcadas entre astro do rock nacional e porta-voz da juventude brasileira. Mas em "Somos Tão Jovens" não chegamos a acompanhar este momento.
O Renato Manfredini Jr do filme ainda é um adolescente, vive com os pais e está se descobrindo, depois de perder seis meses de sua vida preso entre a cama e uma cadeira de rodas por uma grave doença nos ossos.
Sem outras possibilidades de diversão, o jovem Renato lê muito e ouve música e estas duas coisas permitem que comece a entender o que quer para seu futuro, fortalecendo-o, para que mais tarde, tome decisões radicais como a de deixar de dar aulas de inglês, para investir em uma carreira na música, prometendo até, para contentar seus pais, fazer a faculdade de Relações Exteriores, no caso de tudo dar errado.
Todos sabem que ele não chega nem perto do Itamaraty; longe disso, Renato Russo tornou-se acima de tudo um poeta talentoso que sabia como ninguém apontar as mazelas deste país e anseios de sua geração com canções que expressavam toda a revolta de uma juventude ainda às voltas com coisas como a repressão e a censura, já nos últimos suspiros de uma ditadura sanguinaria de triste lembrança.
A fotografia de Alexandre Ermel feita em tons quentes e com uma câmera, que acompanha muito de perto a ação, consegue captar o clima das muitas apresentações de Renato nas reminiscências de sua trajetória. Enquanto os inúmeros musicais servem como uma ponte para os muito fãs de hoje buscarem algum ponto de identificação naquele cenário tão distante da realidade de hoje, livre das facilidades da tecnologia e ainda assim tão rico de poesia e possibilidades.
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