terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Tim Burton afasta-se de suas esquisitices para contar história real



Em "Grandes Olhos", o diretor Tim Burton sai mais uma vez de seu habitual "universo de esquisitices" para contar ao público outra história real, que a exemplo de "Ed Wood" também teve a dupla Scott Alexander e Larry Karaszewski como roteiristas.

Desta vez, a história a ser contada é a de Walter e Margareth Keane (Christoph Waltz e Amy Adams), um casal de pintores, que durante a década de 60, fizeram muito sucesso com uma série de quadros que retratavam crianças, com olhos enormes, quase sempre carregando bichinhos de estimação.

De gosto duvidoso, os tais quadros nunca impressionaram os críticos de arte, mas inauguraram uma era em que a arte passou a ser vista e popularizada como um produto de consumo das massas e posters dos quadros são comercializados até em supermercados.

Mas a história por trás do sucesso comercial era muito mais interessante do que poderiam supor os críticos de arte que arrasavam com os quadros e pareciam torná-los ainda mais notórios. Mais do que isso, as pinturas atribuídas ao falastrão e marqueteiro Walter Keane, eram na verdade feitas por sua esposa, Margareth, que, com a educação da época, que mantinha as mulheres sob a tutela de seus maridos, acabou aceitando ficar à sombra, vendo Walter enriquecer, enquanto trabalhava escondida, trancada em seu atelier, produzindo um quadro atrás do outro.

As interpretações dos dois atores centrais são diametralmente opostas, Amy Adams é toda sutileza, com poucas falas para construir a submissa Margareth, enquanto Christoph Waltz é exagerado e tem toda a canastrice que nos acostumamos a atribuir aos vendedores de carros usados e, mais recentemente, a políticos e pastores televisivos.

O resultado na tela é um equilíbrio sóbrio que raramente pode ser associado à obra de Burton e um espetáculo memorável; não é a toa que Christoph Waltz e Amy Adams receberam indicações ao Globo de Ouro, mas só Amy Adams levou o prêmio. Uma pena que o filme tenha sido completamente esnobado pelo Oscar.

E mesmo que os tais quadros fossem arte ruim, como é muita coisa que fez e ainda faz um grande sucesso comercial, o filme tem outras "camadas" possíveis de leitura; quando escancara o poder dos críticos de arte como John Canaday (Terence Stamp), do New York Times, que com seus escritos, conseguiu que uma das obras de Keane fosse retirada do stand da Unicef, durante a "Feira Mundial de 1964".

E se estes pequenos ditadores, que costumavam definir o que é e o que não é "bom gosto", continuam por aí, distribuindo suas preferências pessoais, tentando definir o que é arte e o que é lixo; ainda bem que seu poder já se encontra bastante diluído, hoje todos conquistaram o direito de expressarem-se a vontade, graças à internet.

"Grandes Olhos" chega aos cinemas brasileiros no dia 29/01.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Birdman ou a inesperada virtude de um filme surpreendente



O novo filme do diretor mexicano Alejandro Gonzalez Inarritu traz críticas ferrenhas ao atual "estado de coisas" em que se encontra a chamada sétima arte; cada vez mais distante do conceito de arte, os estúdios transformaram-se em linhas de montagem de filmes em que o ritmo frenético e a sucessão de explosões são feitas com apuro técnico crescente, para satisfazer um público que se contenta com grandes espetáculos visuais, e não se importa com seus roteiros rasos, meras continuações de franquias intermináveis e seus super heróis.

Essa era a carreira cinematográfica que fez de Riggan Thomson (Michael Keaton) um homem famoso; o ator responsável por 3 filmes da franquia Birdman, feitos na década de 90, mas que depois de alguns anos afastado das telas, tenta um retorno triunfal, mas agora com toda a respeitalidade que uma atuação na Broadway pode garantir.

Bancando do próprio bolso a montagem de um texto denso, adaptação para o teatro do conto "What We Talk About When We Talk About Love" do escritor Raymond Carver, ele dirige e atua no espetáculo, dividindo o palco com mais 3 atores, mas está muito tenso nos poucos dias que antecedem a estreia.

E quanto mais nervoso Riggan fica, mais ele ouve a voz de Birdman, o seu antigo personagem, dentro de sua cabeça, conclamando-o a abandonar tudo e retomar a velha glória holywoodiana, novamente na pele do heroi que o consagrou.

Um acidente no palco faz com que um dos atores tenha que ser substituído e por indicação de Lesley (Naomi Watts), uma das atrizes da peça, Riggan convoca Mike Shiner (Edward Norton), um brilhante, mas difícil ator de teatro, que mesmo entrando na produção a poucos dias da estreia tenta roubar a cena.

E usando Shiner e uma duríssima crítica de teatro, que despreza Hollywood com todas as suas forças, Inarritu também vira suas metralhadoras para o outro lado da balança, os que se sentem "defensores" da arte pura, intocada, que fazem das pequenas plateias de salas teatrais, o único público desejável e necessário.

Mas estamos em outros tempos e tudo precisa estar ao alcance de todos, com a audiência da internet e a fama conquistada em sites como o Youtube substituindo qualquer necessidade de talento ou arte; pelo menos é assim que pensa Sam (Emma Stone), a filha de Riggan, que mal deixou a clínica de reabilitação, passou a ser a assistente pessoal do pai, no teatro.

E no cenário cada vez mais caótico da produção, Riggan continua encontrando apenas seus delírios como refúgio.

Os diálogos do roteiro são bem acima da média escritos por um time formado pelo próprio Inarritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo, eles fazem rir com seu humor negro; e o próprio formato inovador do filme, com uma edição que esconde os cortes, a exemplo do clássico "Festim Diabólico" (1948) do mestre Alfred Hitchcock, ficamos com a impressão de que a câmera segue a ação todo o tempo, mesmo quando entra nas alucinações de Riggan, a câmera de Emmanuel Lubezki está lá, acompanhando tudo de perto.

Cabe aqui salientar as maravilhosas atuações de todo o elenco, é claro que Michael Keaton recebe os maiores aplausos, mas Edward Norton e Emma Stone também estão memoráveis

Birdman é um daqueles filmes que chegam para mudar o jogo, transformar o mesmo de sempre em algo surpreendente, completamente diferente daquilo que todo mundo acostumou-se a esperar de Hollywood. Ainda bem, o cinema que se faz hoje em dia precisa muito disso.

Birdman chega chega aos cinemas brasileiros no dia 29/01.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Acima das Nuvens - Show de interpretação para mostrar o outro lado do mundo do cinema



O título do filme em português pode ser lido de duas formas, nele encontramos pistas sobre as belíssimas locações nos Alpes Suiços em que o filme foi rodado e também para a situação em que vive a personagem Maria Enders (Juliette Binoche), uma veterana estrela europeia de cinema, que também conquistou um grande prestígio em Hollywood e que vive em uma posição em que enxerga o resto do mundo de cima, com todo o possível assédio mantido a distância graças a ação competente de sua dedicada assistente pessoal Valentine (Kristen Stewart).

Valentine cuida de toda a comunicação de Maria, e-mails, mensagens, propostas de negócios e todo e qualquer contato da atriz com o resto do mundo, passa primeiro pela assistente.

Viajando para a Suiça, com a finalidade de receber um prêmio e também reencontrar-se com um velho mentor, o escritor Wilhelm Melchior, que ela considera a pessoa que deu o "empurrão" inicial em sua carreira de atriz, com a peça "Maloja Snake", onde, então com 18 anos, Maria fez o papel de Sigrid, uma ambiciosa secretária que se aproveita da atração sexual que sua chefe sente por ela para explorá-la.

Mas, ainda no caminho, Maria é informada de que o escritor morreu e, assim, passa por um momento ainda mais difícil, quando um prestigiado diretor de teatro a convida para uma nova montagem de "Maloja Snake", agora assumindo o papel de chefe de meia idade, contracenando com Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz), uma famosa e problemática jovem atriz de Hollywood.

Com muita relutância, Maria acaba aceitando o papel e, enquanto repassa o texto com a assistente, as tensões do relacionamento próximo e desigual entre as duas começam a ficar claras e em alguns momentos, a plateia pode até ficar confusa se o diálogo que acontece em cena continua sendo da peça ou é simplesmente uma "lavagem de roupa suja" entre estrela e assistente, provocada pela sensação de claustrofobia causada pelo isolamento.

E é aí que quem acostumou-se a ver Kristen Stewart, apresentando sempre um desempenho medíocre, naquela série em que ela não sabia se queria ser senhora vampiro ou lobisomem, surpreende todo mundo e brilha como atriz.

Kristen aparece em igualdade de condições com a diva Juliette Binoche e é realmente uma pena que este filme tenha ficado de fora das premiações mais importantes do mundo do cinema, embora tenha concorrido a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

O diretor Olivier Assayas traz para seu filme o acesso ao que acontece nos bastidores do mundo do entretenimento e pode ser uma chance para que o público veja outros aspectos dos salões que se localizam, como as montanhas dos Alpes, no topo do mundo, onde os salários e contas a pagar, chegam aos 7 ou mais dígitos, mas os problemas e dificuldades de relacionamento podem ser tão difíceis como são aqui embaixo, entre os mortais.

Confira o trailer de Acima das Nuvens em cartaz nos cinemas brasileiros:


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Filme de Angelina Jolie traz história real de atleta olímpico


Angelina Jolie é uma grande estrela, mas atrás das câmeras, ela é apenas uma iniciante e "Invencível" é seu segundo filme.

Caminhando lentamente em sua nova função atrás das câmeras, a atriz escolheu cercar-se de uma equipe de "feras", que pudessem garantir qualidades técnicas um pouco acima da média a sua produção; assim, o roteiro adaptado do livro de Laura Hillenbrand, por uma equipe formada por 4 profissionais de destaque incluindo os irmãos Coen, a fotografia foi feita por Roger Deakins e a trilha sonora é de Alexandre Desplat.

A missão era a de contar uma história real, a do filho de imigrantes italianos Louis Zamperini (Jack O'Connell), que teve uma infância difícil, sempre correndo dos outros garotos da escola, que o agrediam e até da polícia, pois em sua rebeldia, acabava cometendo pequenos crimes que o deixavam encrencado.

Mas a rebeldia logo desapareceu de sua vida, quando, depois de receber o apoio de seu irmão mais velho, Louis descobre que sua habilidade para correr poderia levá-lo muito mais longe e aos 19 anos, em 1936, ele não só ganha uma medalha de Ouro, nos Jogos Olímpicos de Berlim, como bate o recorde de velocidade em sua categoria.

Mas com a chegada da Segunda Guerra Mundial, os Jogos Olímpicos de Tóquio, que aconteceriam em 1940, são cancelados e Louis se alista na Força Aérea e enquanto está em uma missão de resgate, em 1943, seu avião cai no Pacífico e ele e mais dois sobreviventes passam muitos dias em um bote salva-vidas, perdidos no mar.

Daí em diante, a resiliência de Louis é colocada à prova de todas as formas possíveis e imagináveis, passando anos como prisioneiro dos japoneses, ele sobrevive até mesmo a fúria de "Bird" (Takamasa Ishihara), um sargento japonês que decide usá-lo de "saco de pancadas", depois de descobrir que ele tinha sido um atleta famoso.

Acompanhar o longo sofrimento de Louis tem algo de terrível e talvez os 137 minutos de duração do filme possam parecer um pouco demais para os mais sensíveis, mas o que realmente incomoda é nos lembramos que se trata de uma história real e o que vemos em um par de horas no cinema, estendeu-se por anos a fio.

Angelina Jolie conta sua história de guerra com um estilo que lembra muito o de outro ator que tornou-se diretor e hoje em dia conta com um enorme prestígio, depois de ganhar seus dois Oscars de direção, Clint Eastwood, parece ser o modelo que a atriz escolheu para contar suas histórias reais de heróis de seu país. E como ele, no início de sua carreira atrás das câmeras, tem muito espaço e potencial para evoluir.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Foxcatcher: Quando a vida real consegue ser muito mais estranha do que a ficção

Um história estranha da vida real inspirando um filme perturbador que causa uma sensação crescente de horror, assim é "Foxcatcher".

Mark Schultz (Channing Tatum) é um atleta com uma medalha de ouro olímpica conquistada em 1984, na luta greco-romana em seu currículo.

Mesmo assim, ele não tem muitos horizontes na vida, mas acaba encontrando uma nova esperança de ganhar outra medalha nas Olimpíadas de 1988, quando é convidado pelo bilionário John du Pont (Steve Carell) a entrar para no time, que ele patrocinará e treinará em sua imensa propriedade na Pensilvania, a fazenda Foxcatcher.

O convite parece bom demais para ser real, mas logo Mark começa a ver que as coisas por lá estariam muito distantes daquilo que ele esperava encontrar. A recusa inicial de seu irmão Dave Schultz (Mark Ruffalo), é apenas mais uma das frustrações do atleta, que aos poucos vai se perdendo, enquanto sua ingenuidade, não permite que perceba que está lá apenas como mais uma das muitas excentricidades de um homem tão rico, quanto doente.

O John Du Pont que Steve Carell constrói diante de nossos olhos é mesmo um ser estranho demais para ser ficcional e mesmo atrás da maquiagem pesada, consegue passar toda a dimensão de sua relação de amor e ódio com a mãe autoritária e doente (Vanessa Redgrave), que deveria servir para acender todos os alarmes, caso ele não fosse mais um daqueles seres humanos que se transformam em virtualmente intocáveis, graças ao seu poder econômico.

Quando finalmente Dave Schultz é convencido a participar da equipe Foxcatcher, Mark já se perdeu completamente e o bilionário, depois da frustração de todos seus delírios de grandeza olímpica, reage mostrando enfim sua verdadeira face.

O diretor Bennett Miller conta mais uma história poderosa da vida real, como já tinha feito com Capote (2005) e O Homem que Mudou o Jogo (2011).

Foxcatcher chega aos cinemas brasileiros no dia 22/01. Confira o trailer do filme.


sábado, 17 de janeiro de 2015

O Hobbit 3 - A hora da despedida

E finalmente aquele momento que todos os admiradores da obra de JRR Tolkien tanto esperavam chegou. É um momento de despedida para um público que aprendeu a amar a Terra Média e seus habitantes, mas ao mesmo tempo, é o capítulo final de uma longa saga cinematográfica, que chegou muito perto da perfeição que os ávidos leitores dos livros esperavam.

Digo chegou muito perto porque, no momento do anúncio da decisão de dividir "O Hobbit", um pequeno livro de apenas 300 páginas em três longos filme com mais de duas horas cada um, não foram poucas as vozes que se levantaram contra, afinal, ninguém queria ver filmes esticados, em que nada, ou quase nada acontece, apenas para que o formato trilogia fosse mantido.

E se os dois primeiros hobbits não explicitaram muito essa dificuldade de encaixar em mais de 6 horas um material que caberia muito bem em menos de 3 horas de filme, coube ao último capítulo essa função nada honrosa.

É claro que aqui não estou criticando uma das características mais interessantes de todos os seis filmes de Peter Jackson, nunca tive nada contra as longas tomadas mostrando a beleza natural dos cenários neozelandeses, filmadas de longe, enquanto nossos queridos personagens da Terra Média se movimentam de um lugar para outro, além de um respiro, no meio de tantas cenas de guerra e destruição, as tais cenas tornaram-se uma assinatura da série, junto com a música arrepiante de Howard Shore que toma os alto-falantes, emocionando os fãs.

Mas falo sobre a inclusão de personagens extras, como a elfa Tauriel (Evangeline Lilly) e alguns outros recursos para "encher espaço"  na tela, coisas que parecem ter sido atribuídas a participação de Guillermo del Toro, como  co-autor da roteiro adaptado e que não foram lá muito bem aceitos pelo público fiel da saga.

Se no eletrizante final de "O Hobbit 2: A Desolação de Smaug" (2013), vemos o grupo de anões liderado por Thorin (Richard Armitage), na perspectiva de que o terrível dragão Smaug ataque a cidade do Lago e sua população, que os ajudou e abrigou, este terceiro capítulo começa com impressionantes cenas de destruição.

Mas todos sabemos que depois de muita luta, o dragão é derrotado e, assim, Thorin recupera Erebor e suas câmaras cheias de ouro, um tesouro que o enlouquece e desperta a cobiça de todos os que ficam sabendo sobre a morte do monstro.

E enquanto exércitos de homens, elfos e anões se aproximam, forças bem mais sinistras preparam-se para atacar. Embora uma boa parte do filme seja uma longa guerra de diferentes criaturas por um imenso tesouro, existem cenas em que ainda nos pegamos torcendo por personagens como Galadriel (Cate Blanchet), que em seus poucos minutos de tela enfrenta os terríveis "Espectros do Anel" e por Legolas (Orlando Bloom), que mais uma vez reaparece com sua agilidade de personagem de videogame, em cenas de tirar o fôlego.

E em um filme com longas e intrincadas cenas de batalha, não há muito que o personagem mais importante da trilogia possa fazer e Bilbo Bagins (Martin Freeman), tem pouco tempo na tela, embora sua participação na trama continue crucial.

O final enche os olhos de lágrimas e deixa os fãs da série ressentidos com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywod que esnobou"The Last Goodbye", interpretada por Billy Boyd (Peregrin Took), nas indicações ao Oscar 2015 de melhor canção. 

Uma apresentação ao vivo, na grande noite de gala do Cinema, seria uma chance de despedir-se ainda mais adequadamente de uma saga que sempre fará parte de nossas vidas. É uma pena, mas o filme conseguiu apenas 1 indicação ao Oscar de Melhor Edição de Som.

Confiram o clipe oficial da música "The Last Goodbye"