quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Atuação de Bradley Cooper é a maior atração de "Pegando Fogo"

Adam Jones (Bradley Cooper) é um chefe de cozinha genial, que já passou por um dos melhores restaurantes de Paris, mas seu vício em drogas e sua personalidade difícil de lidar, não só afundou o restaurante famoso, mas o deixou em uma situação tão terrível, que ele decidiu deixar tudo para trás e foi para New Orleans trabalhar em um restaurante qualquer, abrindo ostras, numa tentativa de "pagar por seus pecados".

Com o mundo da alta culinária popularizada hoje em dia por competições entre candidatos a chefe de cozinha na grade das emissoras de TV aberta no país, fica maior o interesse de filmes como esse, que tentam mostrar o que acontece dentro da cozinha antes daqueles belos pratos decorados como obras de arte, chegarem as mesas dos salões cheios de glamour, onde serão apreciados.

E o Adam Jones do bonitão Cooper é um prato cheio. Sentindo-se novamente a altura de retomar sua carreira, ele vai para Londres, onde decide encontrar um restaurante, pronto para alcançar sua terceira estrela no guia Michelin, uma alta honraria no mundo gastronômico.

Para isso, ele parte para a ação e sai recrutando uma equipe para a cozinha do restaurante de Tony (Daniel Brühl), um velho amigo com quem Jones trabalhou em Paris; que decide dar a ele uma nova chance, mas com a condição de que faça semanalmente testes para detecção de uso de drogas com sua própria terapeuta, vivida pela fantástica Emma Thompson.

Naquele estilo a que nos acostumamos assistindo a programas como "Hell's Kitchen" do chefe que grita e humilha seus subordinados, Adam vai aos poucos reconquistando seu caminho até os holofotes.

"Pegando Fogo" não é exatamente aquela grande obra de arte que esperávamos, o roteiro tem pequenas falhas, aqui e ali, mas ainda assim é interessante, o diretor John Wells faz um trabalho razoável e capricha nas muitas cenas que exibem aquela comida feita para se comer com os olhos e o elenco tem uma boa química, com destaque para a garra que Bradley Cooper exibe em todas as suas cenas.

Em uma carreira que começou devagar, como o bonitão que aparecia para quebrar um pouco a comédia sem classe de filmes como "Se Beber Não Case" (2009), ele vem aos poucos mostrando que tem muito mais a apresentar, além dos lindos olhos azuis. As indicações a prêmios importantes como  Globo de Ouro e Oscar demonstram que está em um caminho certo. 

Confira o trailer de "Pegando Fogo":



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Colina Escarlate: Sustos previsiveis, mas sempre com muito estilo

Assim como a presença de JJ Abrahams tem tantas vezes servido como aquele sopro de ar responsável pela revitalização nos últimos anos do gênero Ficção Científica, a atuação de Guillermo del Toro tem feito milagres pelos gêneros fantasia e terror.

O diretor do genial "Labirinto do Fauno" que levou 3 Oscars em 2006, surpreendendo a própria indústria cinematográfica,  traz de volta seu caprichado cuidado com a estética do filme para contar a história da "Colina Escarlate", um filme sobre casa assombrada, mas com fotografia impecável e detalhes visuais de deixar o queixo caído, contribuindo para a construção do clima de terror.

E se a história não é exatamente estranha, mesmo em suas viradas e surpresas mais horripilantes, o elenco faz um bom trabalho, movendo-se pelos incríveis cenários góticos com uma desenvoltura acima da média.

Mia Wasikowska é Edith Cushing, uma jovem romântica  que sonha em se tornar uma escritora como Mary Shelley, que se apaixona por um misterioso nobre britânico (Tom Hiddleston) visitando a América com sua irmã (Jessica Chastain, em uma atuação incrível), a procura de possíveis investidores para sua nova invenção.

A mansão dos irmãos é um dos ambientes mais assustadores que o cinema já conseguiu criar e a fotografia e escolha de cores ainda contribuem para aumentar em muito a sensação de medo.

Fantástico em todos os aspectos e anos luz a frente de tudo quanto tem se produzido no terror nos últimos cinco anos. Não deixe de ver.

Confira o trailer de "A Colina Escarlate": 

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Woody Allen dá mais um passo rumo à velha forma em "O Homem Irracional"

Depois de uma longa "fase europeia", o cineasta Woody Allen parece estar aos poucos retomando seus velhos cenários mais familiares e também os velhos temas e técnicas.

Em "O Homem Irracional", Allen coloca mais uma vez suas tantas divagações sobre filosofia, terapia e vida em sociedade saindo da boca dos personagens que transitam pelo belo campus de uma universidade em Rhode Island.

Abe Lucas (Joaquin Phoenix) é o novo professor de filosofia, que já chega completamente desmotivado a seu novo local de trabalho, padecendo de uma profunda depressão, ao mesmo tempo que seus feitos sexuais anteriores, deixam colegas professoras e alunas dispostas a tentar chamar a atenção do recém chegado.

Sem muita disposição para comprar a briga para se relacionar com Jill (Emma Stone),   aluna brilhante que mais se interessa por ele, Abe decide apenas ser seu amigo, até que os dois ouvem por acaso as queixas de uma mulher prestes a perder a guarda dos dois filhos graças a atuação de um juiz que é muito amigo do advogado de seu ex-marido.

Vendo a aparente coincidência como uma nova chance para dar novos significados a sua própria vida, Abe decide que deve livrar o mundo do tal juiz e decide matá-lo. A partir de sua decisão, todos os seus problemas parecem desaparecer e ele retoma sua vida com todo o vigor que tinha perdido.

Grande fã da literatura russa e também da obra de Alfred Hitchcock,  Woody Allen cita "Crime e Castigo" de Dostoievski e usa seu novo filme para discutir mais uma vez o chamado "crime perfeito" que tantas vezes serviu de tema ao cineasta britânico.

Ainda aproveita as viagens do professor de filosofia para discutir a ética e as consequências das atitudes que parecem muito lógicas e racionais em um primeiro momento, para se revelarem frias e cruéis em seguida.

"O Homem Irracional" ainda não é aquele grande cinema que sempre se espera de Allen, mas é um filme interessante e bem acima da média do que andam oferecendo por aí ultimamente.

Confira o trailer de "O Homem Irracional":

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Alan Rickman é o "Rei Sol" em "Um Pouco de Caos"


Ainda que tente mostrar todo o fascínio de uma época muito particular, em que a nobreza francesa viveu literalmente no topo do mundo, entre as luxuosas paredes cobertas de ouro e espelhos, toda a trama de "Um Pouco de Caos", embora contenha alguns personagens reais, como o próprio "Rei Sol", é ficcional e a história real da construção do Palácio de Versalhes, e de seu incrível salão de baile ao ar livre, ficou bem longe da poesia e do romance que o roteiro tenta imprimir.

Por sinal, o ambiente palaciano passaria para a história como um verdadeiro covil de cobras, lutando todo o tempo pela atenção de um monarca insanamente vaidoso.

De qualquer forma, no filme, em 1682, o palácio já está quase pronto, mas prestes a mudar-se com todo o seu séquito de 2000 nobres da pestilenta cidade de Paris, o Rei Luis XIV (Alan Rickman) ordena que os jardins ao redor do palácio devem refletir toda a opulência dos interiores do palácio.

Encomendando o projeto dos jardins a André Le Notre (Matthias Schoenaerts), um dos nobres que convive dentro do palácio, graças a sua ambiciosa esposa (Helen McCrory), sempre envolvida nas tramas palacianas, em busca de um lugar ao sol, sob os bons auspícios reais.

Para ajudar no projeto, André contrata Sabine De Barra (Kate Winslet), uma profissional a frente de seu tempo, com um grande talento e que acredita que não existe perfeição sem pelo menos o "pouco de caos", do título do filme.

Apaixonada por seu trabalho, a Sabine de Kate Winslet parece uma daquelas personagens tão fascinantes que é mesmo uma pena ela nunca ter existido.

O envolvimento dos dois é cada vez maior, enquanto tudo ao redor parece sempre prestes a fervilhar.

O Luis XIV de Alan Rickman ilumina a tela em suas cenas, mas o resultado final de seu filme, ainda deixa um pouco a desejar. Embora simpático, o romance de época não é suficientemente forte para deixar de apenas ser uma diversão rápida.

E já que falei em diversão, vale ir ao cinema apenas para ver Stanley Tucci que está imperdível como o Duque d'Orleans, o afetado irmão do rei.

Assista ao trailer de "Um Pouco de Caos":  

domingo, 28 de junho de 2015

Al Pacino vive rockstar decadente em "Não Olhe para Trás"

O roteirista e produtor Dan Fogelman escolheu uma história baseada livremente em fatos reais para sua estreia na direção.

Danny Collins (Al Pacino) é um artista que fez muito sucesso na década de 70 e continua trabalhando, fazendo turnês para um público saudosista e vendendo discos de grandes hits que geram lucro suficiente para bancar uma vida de luxo e excentricidade.

Tudo vai muito bem, até que seu empresário Frank Grubman (Christopher Plummer) o presenteia com algo que muda completamente sua vida; uma carta enviada a ele por John Lennon nos anos 70, que tinha ficado por 40 anos nas mãos de colecionadores e que pela primeira vez chegava a seu destino.

A carta faz com que Danny questione sua vida e o rockstar decide partir para um recomeço, voltando a compor e procurando pelo filho, vivido por Bobby Cannavale, que tinha ignorado durante toda a sua vida.

Neste novo recomeço, ele aprende que o dinheiro não é tudo e passa a conhecer pessoas que se tornam importantes em sua vida, como a gerente de hotel Mary (Anette Benning), que se transforma em sua amiga e confidente.

Al Pacino como sempre, dá uma aula de interpretação no papel do rockstar que nunca está disposto a levar nada a serio e parece sempre a ponto de sair atirando o próprio dinheiro pelas ruas, como se este gesto servisse para redimir alguém de suas muitas falhas.

A trilha sonora com músicas de John Lennon são mais um atrativo para este filme despretensioso, com diálogos divertidos, que tinha tudo para cair no melodrama, mas que dá preferência ao bom humor.

Não deixe de ver os créditos finais do filme, que mostram Steve Tilston, o personagem real em que se baseou o roteiro do filme. Tilston era um cantor britânico, de música folk, que esperou por 34 anos para ler uma carta enviada a ele por John Lennon e Yoko Ono.

Confira o trailer de "Não Olhe pra Trás": 


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Miss Julie - O Inferno é o outro

Um fantástico texto teatral clássico do autor sueco August Strindberg, escrito em 1888, é a base deste filme que teve seu roteiro adaptado e foi dirigido pela atriz Liv Ulman.

A Miss Julie do título é a filha de um barão (Jessica Chastain) está isolada em um castelo na Irlanda acompanhada por dois empregados, John, o valete de seu pai (Colin Farrell) e Kathleen (Samantha Morton), a cozinheira e noiva de John.

Sem muito o que fazer em sua vida protegida por sua situação social, mas também sentindo-se enclausurada, Miss Julie deseja participar de uma festa popular que acontece durante a "Midsummer's Night". O dia mais longo do ano, que acontece por volta do dia 24 de junho, na Europa, em que as pessoas dançam nas ruas festejando e dançando ao redor de fogueiras.

Sentindo-se atraída por John, Miss Julie deseja dançar com ele durante as festividades, mas é desencorajada pelos dois empregados, que temem pela segurança da jovem aristocrata e não permitem que ela deixe o castelo.

Ela então decide provocá-lo, mas como desconhece qualquer limite, aproveita-se de sua condição social privilegiada e passa a torturar os dois empregados, com resultados cada vez mais inquietantes e perigosos.

Como diretora, a favorita de Bergman constrói o horror de uma situação claustrofóbica que envolve repressão sexual, guerra de classes, abismos sociais, mas mostra tudo isso com um texto literário acima da média, fazendo com que o público, além de sentir toda a aflição de situações cada vez mais degradantes, ainda tenha o prazer de acompanhar um texto literário bem acima da média do que se costuma encontrar nas salas de cinema.

O trabalho dos atores é sensível, em um texto difícil, cheio de armadilhas em que poderiam escorregar facilmente em qualquer excesso interpretativo, os três se mostram no controle de seus personagens.

Oprimidos e opressores têm cada um seu momento de mostrarem-se humanos e frágeis; mas seu relacionamento se mostra impossivelmente destrutivo. O filme tem muitas camadas a serem consideradas e discutidas e impressiona ao colocar na tela nenhum dos truques gráficos a que estamos acostumados nos últimos anos, mas apenas o ser humano em toda a sua capacidade para ferir e destruir seus semelhantes. 

Assista ao trailer de Miss Julie: 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Novo trailer de Jurassic World chega na rede





O dia da estreia de  "Jurassic World", o quarto filme da franquia que começou em 93, com "Jurassic Park", se aproxima, mas enquanto esperamos ansiosamente o momento de vermos a nova geração de dinossauros destruindo tudo nos cinemas, podemos ter uma prévia do que nos espera hoje mesmo.

O segundo trailer de "Jurassic World" caiu na rede  e está cheio de ação. Depois de 22 anos, o Parque dos Dinossauros está funcionando e atraindo milhares de pessoas de todo o mundo para a Isla Nublar. Os visitantes se encantam em ver de perto todas as atrações sonhadas por John Hammond, mas quando o número de visitantes começa a cair, a grande corporação decide criar uma nova atração ainda mais perigosa do que tudo o que existe no parque.

Sreven Spielberg assina a produção e o filme foi dirigido por  Colin Trevorrow e tem Chris Pratt, Judy Greer e  Ty Simpkins no elenco. "Jurassic World" estreia no Brasil no dia 11/06.

Veja o trailer de Jurrassic World:


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Confira o novo trailer de "Star Wars: O Despertar da Força"




 
Os fãs ainda precisam conter sua ansiedade, o filme só chega aos cinemas no dia 17 de dezembro, mesmo assim, hoje, a equipe de "Star Wars: O Despertar da Força", o sétimo episódio da saga,  agitou a rede, com uma coletiva do elenco transmitida via internet, para todo o mundo.

A entrevista que aconteceu em Amaheim, na California, contou com a presença do diretor JJ Abrams e alguns atores do elenco, como Mark Hammil, Carrie Fisher,  John Bayega e Oscar Isaac.

Aqui em São Paulo, a distribuidora convidou a imprensa para acompanhar a coletiva, em uma das salas de cinema, na Avenida Paulista. Junto com a coletiva, foi liberado um novo trailer inédito do filme que já está bombando no Youtube.

Confira o novo trailer legendado de "Star Wars: O Despertar da Força":




terça-feira, 10 de março de 2015

A performance de Julianne Moore vale o filme em "Para Sempre Alice"

A Dra Alice Howland (Julianne Moore) é uma linguista respeitada, que leciona na Universidade de Columbia, tem alguns livros publicados e  viaja constantemente para dar palestras. Durante uma destas palestras,  ela começa a notar que algo está errado, algumas palavras, sua área de especialidade, parecem estar desaparecendo de sua cabeça.

Mas só quando se perde no campus da universidade em que leciona, quando está se exercitando, é que Alice decide procurar um médico e o diagnóstico deixa ela e sua família muito perturbados, porque aos 50 anos, ela já apresenta sinais de mal de Alzheimer.

A doença é progressiva e, conforme vai avançando, vai levando com ela cada uma das perspectivas e esperanças de Alice e de sua família, que antes da doença, ela achava quase perfeita, não fosse a teimosia de Lydia (Kristen Stewart), de preferir uma carreira sem grandes pretensões, no teatro, ao contrário de seus irmãos mais velhos  com suas sólidas carreiras de formação universitária.

O marido John (Alec Baldwin), de início se mostra preocupado com Alice, mas aos poucos, mergulha no trabalho para manter-se longe, até que, em algum momento, o único apoio que resta a Alice é a filha que ela achava que não teria futuro.

A atuação de Julianne Moore é o ponto mais alto deste drama e rendeu para a atriz os dois principais prêmios da temporada, o Globo de Ouro e o Oscar.

A direção é assinada pela dupla Richard Glatzer e Wash Westmoreland, que tem  uma longa carreira no circuito independente, "Para Sempre Alice" é o primeiro filme da dupla a chamar atenção fora do circuito.

Baseado no romance da neurologista Lisa Genova, o filme chega aos cinemas brasileiros no dia 12 de março.


Confira o trailer de Para Sempre Alice: 




Ben Stiller e Owen Wilson participam de desfile da Semana de Moda em Paris

 Os atores Ben Stiller e Owen Wilson causaram em Paris, durante a Semana de Moda. A dupla de atores apareceu sem ser anunciada na passarela do desfile do estilista Valentino e roubou todas as atenções.

Usando conjuntos estampados, que fazem parte da coleção outono inverno do estilista,  os dois apareceram para divulgar seu próximo trabalho; "Zoolander 2", a sequência de "Zoolander" (2001), um filme dirigido por Stiller que brinca com o mundo da moda.  Em Zoolander, os dois atores fazem o papel de modelos rivais.



"Zoolander 2" chega aos cinemas no dia 12 de Fevereiro de 2016.

Confira um vídeo do desfile:








segunda-feira, 2 de março de 2015

O ser humano no que tem de pior em Relatos Selvagens


Torci muito durante o Oscar, na semana passada, por este filme e é uma pena que ele não levou o prêmio. "Relatos Selvagens" é um trabalho surpreendente do diretor argentino Damian Szifron, que em seis pequenas histórias, mostra a capacidade que todo o ser humano tem de tornar-se em monstro, quando algo o contraria.

A surpresa e as viradas repentinas fazem parte de cada um dos roteiros, assim, é melhor que o espectador vá ao cinema sem saber muito sobre as seis tramas, mas dá para adiantar que em todas as situações sempre existe uma violência assustadora que aqui é encarada sempre com uma boa dose de humor negro.

Existe também alguma dose de crítica social e o episódio em que Ricardo Darin aparece como o engenheiro às voltas com a burocracia de um sistema em que ninguém sequer se preocupa em ouvir as reclamações justas de um cidadão é o mais interessante neste quesito.

Também para ver com um pouco mais de atenção, especialmente aqui no nosso país, onde algumas vezes a justiça, com o apoio da mídia, tenta transformar vítimas de atropelamento em réus, o episódio do garoto rico que quer se livrar da culpa de um acidente, dá aquela sensação de que vemos esse tipo de história todo o tempo.

Mas a melhor de todas as histórias é a final, uma festa de casamento em que o casal Érica Riva e Diego Gentile vivem um verdadeiro pesadelo.

Produzido por Pedro Almodovar o filme é diversão inteligente do tipo que dificilmente chega às nossas telas nos dias de hoje.

Confira o trailer de "Relatos Selvagens":






segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Mais uma patriotada americana


O novo filme do grande Clint Eastwood chega mergulhado em muita polêmica, "Sniper Americano" é a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), um atirador de elite que é considerado o responsável pela morte de nada menos do que 160 inimigos, durante a Guerra do Iraque.

E fica difícil de enfrentar o filme, sem um certo horror que perdura por toda a sua exibição. O Chris que Bradley Cooper mostra na tela pode até posar de herói, mas padece daquela mentalidade que hoje explica muita coisa de ruim que continua acontecendo no mundo; onde os americanos, em nome de uma guerra ao terrorismo, atacam quem bem entendem sempre com muita truculência, sem qualquer preocupação com direitos humanos.

Basta dizer que Chris refere-se aos muitos inimigos, que dizima pelas ruas de cidades iraquianas, como "selvagens". Com uma atitude racista, para dizer o mínimo, ele não hesita em atirar em mulheres e crianças para cumprir sua missão de proteger os soldados americanos envolvidos nas ações.

O diretor Clint Eastwood tenta redimir Kyle de culpa mostrando o personagem como vítima de um sistema de pensamento que herdou do pai, cowboy durão, que exige que seus filhos assumam a atitude do "cão pastor" e nunca das "ovelhas" ou dos "lobos".

A interpretação de Bradley Cooper, mais "bombado" do que nunca, tem aquela expressão que nos acostumamos a ver em grandalhões descerebrados como Silvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, mas ainda tem a seu favor uma finíssima, quase invisível camada de verniz, especialmente nos momentos em que ele aparece tão deslocado, fora de combate, sentindo-se um estranho em sua própria casa. Nada que chegue a justificar sua indicação ao Oscar, que no entanto, me pareceu muito mais uma atitude política/mercadológica feita em favor de um filme que tem conseguido levar muita gente aos cinemas.

Além disso, com todo o rigor técnico de grande produção que o filme recebeu, especialmente nas cenas de ação, onde merece destaque um combate travado em meio a uma enorme tempestade de areia que mistura soldados e inimigos, chega a ser imperdoável que uma simples cena, em que Bradley está em casa, ajudando a cuidar de sua filha recém nascida, o truque de usar uma boneca no lugar de um bebê de verdade, consiga causar risos não intencionais na plateia.

Algo que não se espera ver nem em filme independente, com elenco desconhecido, rodado quase sem orçamento, o que dirá em uma super produção indicada a nada menos do que 6 Oscars.

Confira o trailer de "American Sniper": 








A busca da natureza para redenção


Mais uma surpreendente história da vida real que vai parar nos cinemas, "Livre" tem seu roteiro baseado na autobiografia de Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), entitulada "Wild: From Lost To Found On The Pacific Crest Trail".

O projeto do filme é uma aposta da própria Reese Witherspoon, que, descontente com os papeis que vinha recebendo como proposta dos grandes estúdios e produtoras, decidiu criar sua própria produtora.

A adaptação do roteiro ficou nas mãos do prestigiado escritor Nick Hornby que optou por idas e vindas no tempo para mostrar o que levou uma mulher comum, recém divorciada e sem qualquer preparo físico ou experiência prévia, a colocar uma mochila maior do que ela nas costas e enfrentar as 1100 milhas de caminho entre desertos e montanhas da chamada "Pacific Crest Trail", uma trilha para ser feita a pé que segue próxima da costa oeste dos EUA, e corta o país de ponta a ponta, indo da fronteira com o México até a fronteira com o Canadá.

Nem é preciso dizer que os cenários atravessados por Cheryl são pura beleza natural, mas o desconforto físico que ela parece estar enfrentando por quase todo o tempo não parece deixar a vista de desertos e montanhas assim, tão atraente assim aos olhos do público.

Além de captar a beleza e os perigos do caminho, o diretor Jean-Marc Vallee mostra todo o horror da vida pregressa de Cheryl como se filmasse um pesadelo, em contraste com o cenário de sonho da trilha.

Aí, merece destaque a interação entre Reese Witherspoon e Laura Dern, que interpreta Bobbi, a mãe de Cheryl, talvez a responsável pela maior de suas feridas e também a mais difícil de curar.

A caminhada solitária pela maior parte do tempo, também traz novos personagens para a vida de Cheryl e com eles ela parece aprender cada vez mais.

"Livre" é um daqueles filmes que ajudam a revelar o quanto realmente estamos desconectados da natureza e o quanto um contato real com ela pode ser a cura para todos os nossos males.

Assista ao trailer de "Livre":


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Um amor no meio de um drama


Mais uma cinebiografia que chega aos nossos cinemas, "A Teoria de Tudo" mostra a vida complicada de um dos mais brilhantes cientistas da história mais recente da humanidade, o físico Stephen Hawking. O filme é baseado no livro "Travelling to Infinity: My Life with Stephen" de Jane Wilde Hawking e talvez por isso tenha um maior enfoque no romance entre o cientista vivido por Eddie Redmayne e Jane (Felicity Jones), na época em que já trabalhava na tese que apresentaria para obter o seu PHD.

Como físico, a maior ambição de Stephen é a de encontrar uma teoria que explique a existência do Universo. Brilhante, Stephen conhece Jane em uma das festas da Universidade, mas não demora muito a começar a sentir os efeitos da Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença degenerativa progressiva, que aos poucos vai paralisando todos os músculos do corpo.

O médico que o diagnostica é bem claro e diz a Hawking que ele tem apenas uns dois anos de vida, por isso ele decide acelerar tudo, seu casamento com Jane e seu trabalho de pesquisa.

O trabalho de Eddie Redmayne é primoroso e acompanhamos de perto cada uma das dificuldades que vão aparecendo na vida pessoal de Hawking, enquanto sua mente continua tão brilhante quanto antes, seu corpo parece que aos poucos vai desistindo da vida. Em comparação com Redmayne, o trabalho de Felicity Jones parece bem mais simples, embora seja bastante eficiente, ela ainda dá ao seu personagem toda a carga da mulher que, por amor, enfrenta cada uma das dificuldades com uma enorme resignação.

O filme não se aprofunda muito nas dificuldades do cientista para vencer suas condições físicas e continuar trabalhando e apenas sugere um conflito entre seu ateísmo e a religiosidade de Jane. O diretor James Marsh parece ter optado por um olhar mais distante dos conflitos, tentando mostrar um drama humano um pouco menos terrível do que a realidade parece sugerir.

Confira o trailer de "A Teoria de Tudo":


Boyhood - O triunfo de uma ideia genial


Não é todo dia que vemos um filme como "Boyhood" chegando aos cinemas, sei que quase ninguém sabe disso, mas filmar qualquer coisa para cinema é, antes de tudo, um trabalho complicado, por mais simples que o resultado final possa parecer na tela.

Agora imagina como é escolher um elenco de atores e filmar durante 12 anos seguidos, algumas poucas cenas por ano, porque teve a ideia de acompanhar a evolução de seus personagens durante uma parte importante da vida deles, a infância.

A ideia que Richard Linklater tinha na cabeça e conseguiu realizar, resultou em um filme encantador. E a identificação do público com o pequeno Mason (Ellar Coltrane) e sua família é imediata.

Desde as primeiras cenas em que ele é apenas um garotinho fofo, discutindo com sua mãe Olivia (Patricia Arquette) e brigando constantemente com a irmã Samantha (Lorelei Linklater), enquanto espera pelas raras visitas do pai também chamado Mason (Ethan Hawke); o espectador sente-se atraído e curioso para conhecer o destino daquela família.

E vamos acompanhando tudo de perto, não só os momentos especiais, mas principalmente o dia-a-dia, com as crianças crescendo diante dos nossos olhos, transformando-se em adolescentes e mais tarde em adultos.

Parece tudo muito simples e por isso mesmo é genial. Boyhood não é só um filme sobre a infância e o crescimento de um ser humano, mas transcende isso.
E Richard Linklater continua sendo um especialista nisso, colocar na tela e mostrar aos seres humanos do público das salas de cinema, como é a experiência de viver.

É muito bom que a recente temporada de premiações de cinema esteja dando a Boyhood uma visibilidade maior. Depois de levar para casa os principais prêmios do Globo de Ouro, melhor filme, diretor e atriz coadjuvante para Patrícia Arquette, o filme recebeu 6 indicações ao Oscar e está sendo considerado por muitos críticos um dos favoritos para arrebatar os principais prêmios da noite.

Assista ao trailer de Boyhood - Da Infância a Juventude




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Minhas apostas para o Oscar 2015


Não está nada fácil, até mesmo os especialistas em cinema andam reticentes e está difícil encontrar quem crave palpites certeiros sobre quem sairá vencedor nesta disputadíssima edição do Oscar que acontece no domingo, dia 22/02, no tradicional Teatro Dolby, em Los Angeles.

A explicação para isso está na própria temporada de premiações, que neste ano não revelou nenhum nome como mais forte, entre aqueles que também foram indicados ao Oscar, nenhum filme saiu arrebatando todos os prêmios, mas sim, aconteceu uma pulverização e prêmios importantes como o Globo do Ouro e BAFTA, como também os das diversas entidades e sindicatos oficiais que reúnem diretores, roteiristas, atores e produtores, cada um indicou um nome diferente e, sendo assim, fica muito difícil tentar adivinhar quem serão os grandes vencedores da noite.

Mesmo assim, já vi uma boa parte dos filmes, não todos porque as distribuidoras brasileiras continuam trabalhando com a mesma "velocidade" de sempre e ainda não estrearam filmes importantes como "Para Sempre Alice" e "Vício Inerente"; sem falar em curta metragens, documentários, animações e outras categorias que nunca, ou quase nunca,  chegam por aqui.

E antes de chegar às previsões propriamente ditas, vale lembrar que os filmes que receberam mais indicações neste ano são: "Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)" e "O grande hotel Budapeste", candidatos a 9 estatuetas cada um e a seguir vêm  "O jogo da imitação", com oito,  "Boyhood: Da infância à juventude" e  "Sniper Americano", com seis;  "Whiplash", "Foxcatcher",  "A Teoria de Tudo" e "Interestelar" têm cinco; "Mr Turner" tem quatro indicações, "Caminhos da Floresta" e "Invencível" têm três nomeações.

Em tempo.... lá vai uma previsão minha para o Oscar 2015, que acerto em quase todos os anos: Mais uma vez, desrespeitando completamente o público, a Rede Globo deixará os brasileiros que gostam de cinema na mão.

Embora esteja anunciando a transmissão do evento, já sabemos que ela não acontecerá na íntegra, como o público brasileiro merece e deveria exigir, mas entrará no ar somente às 23:45hrs, após sua enfadonha e duvidosa programação normal terminar e isso inclui o lixo chamado BBB e outras aberrações, que, no entanto, são facilmente encurtadas, quando a emissora tem o interesse de transmitir de verdade algum evento e não simplesmente pegar a exclusividade na rede aberta apenas para impedir que alguém mais capaz transmita tudo.

Enfim, não se espante se assistir novamente à mesma demonstração de incompetência de sempre, quando os comentaristas da emissora, com a habitual cara de pau, entram no ar ainda dizendo que "não aconteceu nada de interessante" na festa, até aquele momento, para em seguida, depois de um interminável intervalo comercial, dizer que mostrarão a escolha de Melhor Filme, que todos sabem, encerra a cerimônia.

É... aquele coro que se ouve nas ruas, há anos, durante manifestações populares não poderia estar mais certo e  também se aplica à transmissão do maior evento do Cinema Mundial: "O povo não é bobo, FORA REDE GLOBO!"


Melhor filme
Birdman

Melhor diretor
Richard Linklater - Boyhood: Da infância à juventude

Melhor ator
Michael Keaton - Birdman

Melhor atriz
Julianne Moore - Para sempre Alice

Melhor ator coadjuvante
JK Simons - Whiplash

Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette - Boyhood: Da infância à juventude

Melhor filme estrangeiro
Relatos Selvagens - Argentina

Melhor documentário
Citizenfour

Melhor roteiro original
O grande hotel Budapeste

Melhor roteiro adaptado
Whiplash

Melhor fotografia
Birdman

Melhor animação
Como treinar o seu dragão 2

Melhor edição
Boyhood

Melhor design de produção
O grande hotel Budapeste

Melhor figurino
O grande hotel Budapeste

Melhor maquiagem e cabelo
O grande hotel Budapeste

Melhores efeitos visuais
Interestelar

Melhor trilha sonora
O grande hotel Budapeste

Melhor canção
"Glory" de John Stephens e Lonnie Lynn - Selma

Melhor edição de som
Sniper americano

Melhor mixagem de som
Whiplash


E aí? Concordam com a minha lista? Estou esperando seus comentários....

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Uma batalha pela igualdade


Um momento tão importante e decisivo da história americana finalmente chega ao cinema, para que mais pessoas consigam finalmente conhecê-lo e até compreendê-lo melhor, assistindo ao filme "Selma", com sua fantástica reconstituição de um dos períodos mais complicados e efervescentes que os Estados Unidos e o próprio mundo viveram.

No início dos anos 60, os EUA fervem com movimentos que lutam pelos direitos civis dos negros, ainda pressionados pela legislação e atitude racista de muitos estados.

E entre os líderes deste movimento, o reverendo Martin Luther King Jr (David Oyelewo) já tinha alcançado projeção mundial em 1964, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, mas continuava em sua luta, agora tentando fazer com que os negros conseguissem de fato o direito de votar em toda a América, sem a interferência do racismo.

Esperando por uma intervenção e ordens mais claras do Presidente Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson), Martin Luther King parte para o Alabama, um dos estados onde os negros enfrentavam as maiores dificuldades para registrarem-se como eleitores, e lá, convoca protestos, rechaçados com violência pela polícia.

George Wallace (Tim Roth), o governador do Alabama, é tão ou mais racista que as forças policiais que comanda e os protestos, embora sejam feitos seguindo a filosofia da não-violência de King, transformam-se em batalhas campais, com muitos mortos e feridos, além de inúmeros presos.

Uma das maiores qualidades de Selma é a de mostrar, lance a lance, o xadrez político que a ação de Luther King provoca, com uma tensão crescente que explode quando, em 1965, o movimento convoca uma marcha de 50 milhas entre as cidades de Selma e Montgomery, a capital do estado do Alabama.

O roteiro de Paul Webb escolhe ver tudo bem de perto e mostra inclusive os conflitos pessoais de King com a esposa Coretta Scott King (Carmen Ejogo), ajudando a desmistificar um pouco sua figura heroica, enquanto a direção de Ava DuVernay mostra toda a devastação criada pela brutalidade.

Ah... e vale muito a pena ficar mais um pouquinho no cinema para ver os créditos finais do filme, a música tema "Glory", interpretada por John Legend, que já levou o Globo de Ouro na categoria canção original e foi indicada ao Oscar, é mesmo uma das melhores do ano.

Um grande filme, obrigatório para quem se interessa por história e mais ainda para quem não se interessa. Quem sabe, vendo com os próprios olhos, as consequências dessa doença mental chamada preconceito, as pessoas consigam combatê-lo de uma forma ainda mais eficaz para que ele termine de vez. 

Confira o trailer de "Selma"


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Em "O Jogo da Imitação", a história do homem que desvendou o "Enigma"

Quase todos os filmes sobre heróis que se sobressaíram em qualquer uma das guerras já travadas pela humanidade sempre têm em algum momento aquele tom de admiração, que faz você deixar a sala de cinema pensando no quanto aquele ser humano ajudou o mundo a superar um momento difícil, às vezes pagando com a vida por essa superação.

Infelizmente, junto com a admiração, este "O Jogo da Imitação", também deve despertar surpresa e revolta, a medida que nos familiarizamos com sua história completa.

Com roteiro de Graham Moore, baseado no livro "Alan Turing: The Enigma" de Andrew Hodges, o filme conta a história de Allan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático com trabalhos escritos sobre criptografia que é recrutado secretamente pelo governo britânico para participar de um time de cientistas com a missão de decifrar as mensagens trocadas pelos nazistas utilizando o intrincado aparelho Enigma.

Turing tem uma personalidade bem difícil de se lidar, a ponto de preferir trabalhar sozinho a ter que explicar aos colegas os detalhes de sua invenção; um aparelho que possa "desembaralhar" o código que torna as comunicações entre os nazistas em algo ilegível.

Caro e intrincado, o tal aparelho que Turing inventa demora a apresentar resultados, o que faz com que o Comandante Denniston (Charles Dance), chefe da operação, passe a perseguí-lo e chega a tornar-se quase um inimigo do cientista, que precisa lutar muito para continuar as pesquisas que transformaram sua máquina, que no filme é chamado de "Christopher", em um dos precursores do computador.

E entre as muitas dificuldades que Turing enfrenta, algumas sequer fazem qualquer sentido hoje em dia, como o fato da pessoa que mais poderia colaborar no desenvolvimento de sua máquina ser uma mulher solteira, Joan Clarke (Keira Knightley muito bem no papel), que não consegue afastar-se dos pais, para trabalhar em uma equipe formada por homens, em atividades que devem permanecer secretas.

Infelizmente, o sucesso de Allan em sua empreitada não garantiu a ele o reconhecimento merecido, pelo contrário, sua descoberta foi mantida em segredo e, mais tarde, na década de 50, ele se vê preso e condenado pela justiça por ser homossexual.

Vale ressaltar que o trabalho de ator de Benedict Cumberbatch é impressionante e mesmo quando o próprio roteiro não colabora, nas sequências mais repetitivas em que ele não faz muito mais do que reclamarque ninguém o entende, ele consegue bons resultados.

O filme marca a estreia do diretor norueguês Morten Tyldum no cinema britânico e chamou atenção nesta temporada de premiações, embora ainda não tenha conseguido levar para casa nenhum prêmio ainda; de qualquer forma foram 5 indicações ao Globo de Ouro, 9 ao BAFTA, a premiação mais importante do cinema britânico, e mais 8 indicações ao Oscar.

Confira o trailer de "O Jogo da Imitação"


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Tim Burton afasta-se de suas esquisitices para contar história real



Em "Grandes Olhos", o diretor Tim Burton sai mais uma vez de seu habitual "universo de esquisitices" para contar ao público outra história real, que a exemplo de "Ed Wood" também teve a dupla Scott Alexander e Larry Karaszewski como roteiristas.

Desta vez, a história a ser contada é a de Walter e Margareth Keane (Christoph Waltz e Amy Adams), um casal de pintores, que durante a década de 60, fizeram muito sucesso com uma série de quadros que retratavam crianças, com olhos enormes, quase sempre carregando bichinhos de estimação.

De gosto duvidoso, os tais quadros nunca impressionaram os críticos de arte, mas inauguraram uma era em que a arte passou a ser vista e popularizada como um produto de consumo das massas e posters dos quadros são comercializados até em supermercados.

Mas a história por trás do sucesso comercial era muito mais interessante do que poderiam supor os críticos de arte que arrasavam com os quadros e pareciam torná-los ainda mais notórios. Mais do que isso, as pinturas atribuídas ao falastrão e marqueteiro Walter Keane, eram na verdade feitas por sua esposa, Margareth, que, com a educação da época, que mantinha as mulheres sob a tutela de seus maridos, acabou aceitando ficar à sombra, vendo Walter enriquecer, enquanto trabalhava escondida, trancada em seu atelier, produzindo um quadro atrás do outro.

As interpretações dos dois atores centrais são diametralmente opostas, Amy Adams é toda sutileza, com poucas falas para construir a submissa Margareth, enquanto Christoph Waltz é exagerado e tem toda a canastrice que nos acostumamos a atribuir aos vendedores de carros usados e, mais recentemente, a políticos e pastores televisivos.

O resultado na tela é um equilíbrio sóbrio que raramente pode ser associado à obra de Burton e um espetáculo memorável; não é a toa que Christoph Waltz e Amy Adams receberam indicações ao Globo de Ouro, mas só Amy Adams levou o prêmio. Uma pena que o filme tenha sido completamente esnobado pelo Oscar.

E mesmo que os tais quadros fossem arte ruim, como é muita coisa que fez e ainda faz um grande sucesso comercial, o filme tem outras "camadas" possíveis de leitura; quando escancara o poder dos críticos de arte como John Canaday (Terence Stamp), do New York Times, que com seus escritos, conseguiu que uma das obras de Keane fosse retirada do stand da Unicef, durante a "Feira Mundial de 1964".

E se estes pequenos ditadores, que costumavam definir o que é e o que não é "bom gosto", continuam por aí, distribuindo suas preferências pessoais, tentando definir o que é arte e o que é lixo; ainda bem que seu poder já se encontra bastante diluído, hoje todos conquistaram o direito de expressarem-se a vontade, graças à internet.

"Grandes Olhos" chega aos cinemas brasileiros no dia 29/01.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Birdman ou a inesperada virtude de um filme surpreendente



O novo filme do diretor mexicano Alejandro Gonzalez Inarritu traz críticas ferrenhas ao atual "estado de coisas" em que se encontra a chamada sétima arte; cada vez mais distante do conceito de arte, os estúdios transformaram-se em linhas de montagem de filmes em que o ritmo frenético e a sucessão de explosões são feitas com apuro técnico crescente, para satisfazer um público que se contenta com grandes espetáculos visuais, e não se importa com seus roteiros rasos, meras continuações de franquias intermináveis e seus super heróis.

Essa era a carreira cinematográfica que fez de Riggan Thomson (Michael Keaton) um homem famoso; o ator responsável por 3 filmes da franquia Birdman, feitos na década de 90, mas que depois de alguns anos afastado das telas, tenta um retorno triunfal, mas agora com toda a respeitalidade que uma atuação na Broadway pode garantir.

Bancando do próprio bolso a montagem de um texto denso, adaptação para o teatro do conto "What We Talk About When We Talk About Love" do escritor Raymond Carver, ele dirige e atua no espetáculo, dividindo o palco com mais 3 atores, mas está muito tenso nos poucos dias que antecedem a estreia.

E quanto mais nervoso Riggan fica, mais ele ouve a voz de Birdman, o seu antigo personagem, dentro de sua cabeça, conclamando-o a abandonar tudo e retomar a velha glória holywoodiana, novamente na pele do heroi que o consagrou.

Um acidente no palco faz com que um dos atores tenha que ser substituído e por indicação de Lesley (Naomi Watts), uma das atrizes da peça, Riggan convoca Mike Shiner (Edward Norton), um brilhante, mas difícil ator de teatro, que mesmo entrando na produção a poucos dias da estreia tenta roubar a cena.

E usando Shiner e uma duríssima crítica de teatro, que despreza Hollywood com todas as suas forças, Inarritu também vira suas metralhadoras para o outro lado da balança, os que se sentem "defensores" da arte pura, intocada, que fazem das pequenas plateias de salas teatrais, o único público desejável e necessário.

Mas estamos em outros tempos e tudo precisa estar ao alcance de todos, com a audiência da internet e a fama conquistada em sites como o Youtube substituindo qualquer necessidade de talento ou arte; pelo menos é assim que pensa Sam (Emma Stone), a filha de Riggan, que mal deixou a clínica de reabilitação, passou a ser a assistente pessoal do pai, no teatro.

E no cenário cada vez mais caótico da produção, Riggan continua encontrando apenas seus delírios como refúgio.

Os diálogos do roteiro são bem acima da média escritos por um time formado pelo próprio Inarritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo, eles fazem rir com seu humor negro; e o próprio formato inovador do filme, com uma edição que esconde os cortes, a exemplo do clássico "Festim Diabólico" (1948) do mestre Alfred Hitchcock, ficamos com a impressão de que a câmera segue a ação todo o tempo, mesmo quando entra nas alucinações de Riggan, a câmera de Emmanuel Lubezki está lá, acompanhando tudo de perto.

Cabe aqui salientar as maravilhosas atuações de todo o elenco, é claro que Michael Keaton recebe os maiores aplausos, mas Edward Norton e Emma Stone também estão memoráveis

Birdman é um daqueles filmes que chegam para mudar o jogo, transformar o mesmo de sempre em algo surpreendente, completamente diferente daquilo que todo mundo acostumou-se a esperar de Hollywood. Ainda bem, o cinema que se faz hoje em dia precisa muito disso.

Birdman chega chega aos cinemas brasileiros no dia 29/01.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Acima das Nuvens - Show de interpretação para mostrar o outro lado do mundo do cinema



O título do filme em português pode ser lido de duas formas, nele encontramos pistas sobre as belíssimas locações nos Alpes Suiços em que o filme foi rodado e também para a situação em que vive a personagem Maria Enders (Juliette Binoche), uma veterana estrela europeia de cinema, que também conquistou um grande prestígio em Hollywood e que vive em uma posição em que enxerga o resto do mundo de cima, com todo o possível assédio mantido a distância graças a ação competente de sua dedicada assistente pessoal Valentine (Kristen Stewart).

Valentine cuida de toda a comunicação de Maria, e-mails, mensagens, propostas de negócios e todo e qualquer contato da atriz com o resto do mundo, passa primeiro pela assistente.

Viajando para a Suiça, com a finalidade de receber um prêmio e também reencontrar-se com um velho mentor, o escritor Wilhelm Melchior, que ela considera a pessoa que deu o "empurrão" inicial em sua carreira de atriz, com a peça "Maloja Snake", onde, então com 18 anos, Maria fez o papel de Sigrid, uma ambiciosa secretária que se aproveita da atração sexual que sua chefe sente por ela para explorá-la.

Mas, ainda no caminho, Maria é informada de que o escritor morreu e, assim, passa por um momento ainda mais difícil, quando um prestigiado diretor de teatro a convida para uma nova montagem de "Maloja Snake", agora assumindo o papel de chefe de meia idade, contracenando com Jo-Ann Ellis (Chloë Grace Moretz), uma famosa e problemática jovem atriz de Hollywood.

Com muita relutância, Maria acaba aceitando o papel e, enquanto repassa o texto com a assistente, as tensões do relacionamento próximo e desigual entre as duas começam a ficar claras e em alguns momentos, a plateia pode até ficar confusa se o diálogo que acontece em cena continua sendo da peça ou é simplesmente uma "lavagem de roupa suja" entre estrela e assistente, provocada pela sensação de claustrofobia causada pelo isolamento.

E é aí que quem acostumou-se a ver Kristen Stewart, apresentando sempre um desempenho medíocre, naquela série em que ela não sabia se queria ser senhora vampiro ou lobisomem, surpreende todo mundo e brilha como atriz.

Kristen aparece em igualdade de condições com a diva Juliette Binoche e é realmente uma pena que este filme tenha ficado de fora das premiações mais importantes do mundo do cinema, embora tenha concorrido a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

O diretor Olivier Assayas traz para seu filme o acesso ao que acontece nos bastidores do mundo do entretenimento e pode ser uma chance para que o público veja outros aspectos dos salões que se localizam, como as montanhas dos Alpes, no topo do mundo, onde os salários e contas a pagar, chegam aos 7 ou mais dígitos, mas os problemas e dificuldades de relacionamento podem ser tão difíceis como são aqui embaixo, entre os mortais.

Confira o trailer de Acima das Nuvens em cartaz nos cinemas brasileiros:


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Filme de Angelina Jolie traz história real de atleta olímpico


Angelina Jolie é uma grande estrela, mas atrás das câmeras, ela é apenas uma iniciante e "Invencível" é seu segundo filme.

Caminhando lentamente em sua nova função atrás das câmeras, a atriz escolheu cercar-se de uma equipe de "feras", que pudessem garantir qualidades técnicas um pouco acima da média a sua produção; assim, o roteiro adaptado do livro de Laura Hillenbrand, por uma equipe formada por 4 profissionais de destaque incluindo os irmãos Coen, a fotografia foi feita por Roger Deakins e a trilha sonora é de Alexandre Desplat.

A missão era a de contar uma história real, a do filho de imigrantes italianos Louis Zamperini (Jack O'Connell), que teve uma infância difícil, sempre correndo dos outros garotos da escola, que o agrediam e até da polícia, pois em sua rebeldia, acabava cometendo pequenos crimes que o deixavam encrencado.

Mas a rebeldia logo desapareceu de sua vida, quando, depois de receber o apoio de seu irmão mais velho, Louis descobre que sua habilidade para correr poderia levá-lo muito mais longe e aos 19 anos, em 1936, ele não só ganha uma medalha de Ouro, nos Jogos Olímpicos de Berlim, como bate o recorde de velocidade em sua categoria.

Mas com a chegada da Segunda Guerra Mundial, os Jogos Olímpicos de Tóquio, que aconteceriam em 1940, são cancelados e Louis se alista na Força Aérea e enquanto está em uma missão de resgate, em 1943, seu avião cai no Pacífico e ele e mais dois sobreviventes passam muitos dias em um bote salva-vidas, perdidos no mar.

Daí em diante, a resiliência de Louis é colocada à prova de todas as formas possíveis e imagináveis, passando anos como prisioneiro dos japoneses, ele sobrevive até mesmo a fúria de "Bird" (Takamasa Ishihara), um sargento japonês que decide usá-lo de "saco de pancadas", depois de descobrir que ele tinha sido um atleta famoso.

Acompanhar o longo sofrimento de Louis tem algo de terrível e talvez os 137 minutos de duração do filme possam parecer um pouco demais para os mais sensíveis, mas o que realmente incomoda é nos lembramos que se trata de uma história real e o que vemos em um par de horas no cinema, estendeu-se por anos a fio.

Angelina Jolie conta sua história de guerra com um estilo que lembra muito o de outro ator que tornou-se diretor e hoje em dia conta com um enorme prestígio, depois de ganhar seus dois Oscars de direção, Clint Eastwood, parece ser o modelo que a atriz escolheu para contar suas histórias reais de heróis de seu país. E como ele, no início de sua carreira atrás das câmeras, tem muito espaço e potencial para evoluir.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Foxcatcher: Quando a vida real consegue ser muito mais estranha do que a ficção

Um história estranha da vida real inspirando um filme perturbador que causa uma sensação crescente de horror, assim é "Foxcatcher".

Mark Schultz (Channing Tatum) é um atleta com uma medalha de ouro olímpica conquistada em 1984, na luta greco-romana em seu currículo.

Mesmo assim, ele não tem muitos horizontes na vida, mas acaba encontrando uma nova esperança de ganhar outra medalha nas Olimpíadas de 1988, quando é convidado pelo bilionário John du Pont (Steve Carell) a entrar para no time, que ele patrocinará e treinará em sua imensa propriedade na Pensilvania, a fazenda Foxcatcher.

O convite parece bom demais para ser real, mas logo Mark começa a ver que as coisas por lá estariam muito distantes daquilo que ele esperava encontrar. A recusa inicial de seu irmão Dave Schultz (Mark Ruffalo), é apenas mais uma das frustrações do atleta, que aos poucos vai se perdendo, enquanto sua ingenuidade, não permite que perceba que está lá apenas como mais uma das muitas excentricidades de um homem tão rico, quanto doente.

O John Du Pont que Steve Carell constrói diante de nossos olhos é mesmo um ser estranho demais para ser ficcional e mesmo atrás da maquiagem pesada, consegue passar toda a dimensão de sua relação de amor e ódio com a mãe autoritária e doente (Vanessa Redgrave), que deveria servir para acender todos os alarmes, caso ele não fosse mais um daqueles seres humanos que se transformam em virtualmente intocáveis, graças ao seu poder econômico.

Quando finalmente Dave Schultz é convencido a participar da equipe Foxcatcher, Mark já se perdeu completamente e o bilionário, depois da frustração de todos seus delírios de grandeza olímpica, reage mostrando enfim sua verdadeira face.

O diretor Bennett Miller conta mais uma história poderosa da vida real, como já tinha feito com Capote (2005) e O Homem que Mudou o Jogo (2011).

Foxcatcher chega aos cinemas brasileiros no dia 22/01. Confira o trailer do filme.


sábado, 17 de janeiro de 2015

O Hobbit 3 - A hora da despedida

E finalmente aquele momento que todos os admiradores da obra de JRR Tolkien tanto esperavam chegou. É um momento de despedida para um público que aprendeu a amar a Terra Média e seus habitantes, mas ao mesmo tempo, é o capítulo final de uma longa saga cinematográfica, que chegou muito perto da perfeição que os ávidos leitores dos livros esperavam.

Digo chegou muito perto porque, no momento do anúncio da decisão de dividir "O Hobbit", um pequeno livro de apenas 300 páginas em três longos filme com mais de duas horas cada um, não foram poucas as vozes que se levantaram contra, afinal, ninguém queria ver filmes esticados, em que nada, ou quase nada acontece, apenas para que o formato trilogia fosse mantido.

E se os dois primeiros hobbits não explicitaram muito essa dificuldade de encaixar em mais de 6 horas um material que caberia muito bem em menos de 3 horas de filme, coube ao último capítulo essa função nada honrosa.

É claro que aqui não estou criticando uma das características mais interessantes de todos os seis filmes de Peter Jackson, nunca tive nada contra as longas tomadas mostrando a beleza natural dos cenários neozelandeses, filmadas de longe, enquanto nossos queridos personagens da Terra Média se movimentam de um lugar para outro, além de um respiro, no meio de tantas cenas de guerra e destruição, as tais cenas tornaram-se uma assinatura da série, junto com a música arrepiante de Howard Shore que toma os alto-falantes, emocionando os fãs.

Mas falo sobre a inclusão de personagens extras, como a elfa Tauriel (Evangeline Lilly) e alguns outros recursos para "encher espaço"  na tela, coisas que parecem ter sido atribuídas a participação de Guillermo del Toro, como  co-autor da roteiro adaptado e que não foram lá muito bem aceitos pelo público fiel da saga.

Se no eletrizante final de "O Hobbit 2: A Desolação de Smaug" (2013), vemos o grupo de anões liderado por Thorin (Richard Armitage), na perspectiva de que o terrível dragão Smaug ataque a cidade do Lago e sua população, que os ajudou e abrigou, este terceiro capítulo começa com impressionantes cenas de destruição.

Mas todos sabemos que depois de muita luta, o dragão é derrotado e, assim, Thorin recupera Erebor e suas câmaras cheias de ouro, um tesouro que o enlouquece e desperta a cobiça de todos os que ficam sabendo sobre a morte do monstro.

E enquanto exércitos de homens, elfos e anões se aproximam, forças bem mais sinistras preparam-se para atacar. Embora uma boa parte do filme seja uma longa guerra de diferentes criaturas por um imenso tesouro, existem cenas em que ainda nos pegamos torcendo por personagens como Galadriel (Cate Blanchet), que em seus poucos minutos de tela enfrenta os terríveis "Espectros do Anel" e por Legolas (Orlando Bloom), que mais uma vez reaparece com sua agilidade de personagem de videogame, em cenas de tirar o fôlego.

E em um filme com longas e intrincadas cenas de batalha, não há muito que o personagem mais importante da trilogia possa fazer e Bilbo Bagins (Martin Freeman), tem pouco tempo na tela, embora sua participação na trama continue crucial.

O final enche os olhos de lágrimas e deixa os fãs da série ressentidos com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywod que esnobou"The Last Goodbye", interpretada por Billy Boyd (Peregrin Took), nas indicações ao Oscar 2015 de melhor canção. 

Uma apresentação ao vivo, na grande noite de gala do Cinema, seria uma chance de despedir-se ainda mais adequadamente de uma saga que sempre fará parte de nossas vidas. É uma pena, mas o filme conseguiu apenas 1 indicação ao Oscar de Melhor Edição de Som.

Confiram o clipe oficial da música "The Last Goodbye"