Um dos mais criativos roteiros dos últimos tempos, com diversos níveis de interpretação e, suficientemente popular para atingir já em sua primeira semana de exibição invejáveis resultados nas bilheterias de todo o mundo, assim é o fenomenal “A Origem”.
Ansiosamente aguardado como a principal estreia da concorrida temporada de verão americano, o filme de ação tem um visual deslumbrante e é um projeto que vinha sendo desenvolvido por seu diretor/roteirista Christopher Nolan nos últimos 8 anos; antes mesmo de "Batman - Begins" (2005), seu primeiro envolvimento com a franquia que serviu para dar uma maior projeção a sua carreira.
Mas antes de chegar à franquia, Nolan já chamava atenção pela escolha de roteiros criativos, que costumam subverter narrativas, desconstruindo as fórmulas tradicionais, apresentando-se como um cineasta diferenciado desde "Amnésia" (2000), sua estreia no cinema.
Desta vez, ele mergulha em um outro tipo de mundo, bem mais sombrio e desconhecido do que o universo do heroi dos quadrinhos: o mundo dos sonhos.
Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) descobriu uma tecnologia que permite a mais ousada de todas as formas de espionagem, o roubo de segredos em sua fonte principal, direto da mente de executivos e técnicos, através dos sonhos.
Mas uma de suas ações termina de forma desastrosa e seu "alvo", o empresário japonês Saito (Ken Watanabe) exige que ele invada a mente de um de seus concorrentes, mas desta vez para inserir uma ideia.
Esta curta sinopse não entrega nenhum dos muitos segredos da história que vai se desenvolvendo em camadas diferentes, conforme a equipe se move dentro dos sonhos do executivo Robert Fischer (Cillian Murphy), com ação eletrizante, imagens de perder o fôlego, como a de ruas parisienses sendo dobradas sobre si mesmas e um final surpreendente.
Além disso, não leva em consideração os pequenos detalhes que transformam esta grande produção em uma experiência inesquecível, como o trabalho coeso de todo o elenco, com destaque para a performance acima da média de Leonardo DiCaprio e até mesmo a presença de "Non, Je Ne Regrette Rien", cantada por Edith Piaf, na trilha sonora.
Comparado exaustivamente pela crítica especializada com a Trilogia Matrix, pois como ela, mostra persongens que circulam por realidades paralelas; "A Origem" tem como a Saga dos Irmãos Wachowski, outras tantas camadas de leitura, além da mais óbvia, o que aumenta consideravelmente o interesse deste imperdivel blockbuster de ação.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Sucesso de A Origem prova que cinema ainda pode ser criativo
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“A origem”
ResponderExcluirMesmo que levássemos em conta apenas a superfície imediata do entretenimento, o filme superaria a média industrial hollywoodiana. Nem tanto por mérito do jovem e talentoso Cristopher Nolan, mas graças ao arrojo técnico empregado para contar sua história mirabolante. Os efeitos visuais atingem um grau de ilusionismo assombroso. A edição é exemplar. Prêmios técnicos não faltarão ao filme.
Há, no entanto, um pequeno detalhe.
A música “Je ne regrette rien”, cantada por Edith Piaf, surge freqüentemente, servindo a necessidades dramáticas. Os protagonistas a utilizam como uma espécie de gatilho para retornar das viagens pelos sonhos. Depois que os inconscientes foram devidamente treinados, basta-lhes ouvi-la e todos despertam imediatamente, salvando-se de apuros eventuais.
Mas trata-se também de uma referência exterior ao próprio filme: a canção desloca nosso raciocínio da personagem-chave “Mal” para sua intérprete, a francesa Marion Cotillard. Pois é impossível não lembrar a própria Cotillard no papel de Edith Piaf, cantando exatamente “Je ne regrette rien”.
Enquanto “Mal” só existe no mundo onírico, a identificação da atriz com seus trabalhos anteriores faz sentido apenas no plano dos espectadores conscientes. A citação extrai os personagens de suas imersões pela fantasia e ao mesmo tempo nos retira de “A origem” (ou do “sonho” representado pelo filme) para devolver-nos à realidade exterior.
Se qualquer outra canção preservasse o mesmo sentido conveniente à trama (“não lamento nada”), as lucubrações acima virariam delírios absurdos. Mas a escolha dessa música, entre inúmeras possíveis, é precisa e enriquecedora demais para soar casual. E assim descobrimos a essência do código metalingüístico em sua plena realização.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com/
A ideia de questionar o que é sonho e o que é realidade, e seus desdobramentos de sonhos dentro de sonhos, ficaria mais interessante sem tantos tiros e perseguições - bem ao gosto do frequês. Será que "Non, Je Ne Regrette Rien", cantada por Edith Piaf, posando de metalinguagem, é o que nos salvará? Ainda creio que o roteiro nas mãos de um Charles Kaufman ficaria perfeito.
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